Tapando buracos

Não, não é mais uma campanha da prefeitura de sua cidade, mas uma reflexão sobre vazios e preenchimentos.

Por que nos preocupamos tanto em preencher buracos? Completar buracos com aquilo que não pertence a aquele lugar? E não quero apenas falar sobre rugas que insistem em aparecer em nossa pele e que podem sumir com um procedimento médico e estético.

Há outras rugas. Rugas em nossa alma. E as preenchemos com diversas coisas que não fazem parte daquilo. É o vazio da falta de amor que preenchemos com sexo, comida, relacionamentos abusivos, comportamentos mesquinhos. É a falta de atenção que é tão bem disfarçada com um doce bem melado ou com aquele carro do ano ou o smartphone top de linha. É a falta de autoconfiança que se completa com aquela roupa de marca mais cara, com um corpo mais robusto, ou com o sentimento que temos após humilharmos alguém que nos faz lembrar quem realmente somos. Há também os vazios que a raiva deixa após consumir uma parte de nós, ah, como esses vazios são disfarçados com mais raiva, ódio, mágoa e com comportamentos autodestrutivos.

E há o reflexo disso em nossa casa também. O quanto guardamos para garantir um pouco mais de amor, para ter mais segurança, para lembrar do momento em que recebemos atenção de alguém muito especial, para sentirmos a segurança de que aquilo nunca faltará? Quantos pensamentos são ocupados pela raiva que guardamos?

Por que não tirar desses buracos o falso preenchimento? E olhar para eles de outra forma? Quem sabe nem são tão profundos assim? Ou quem sabe o relevo de nossa alma seja mais bonito de se ver sem disfarces ou filtros? Ou talvez seja o caso de se fazer uma terraplanagem, equilibrando as nossas colinas e nossos vales compostos de nós mesmos, sem tapa buracos externos. Ou, ainda, devêssemos observar a cicatrização das feridas, uma renovação de nossa alma, feita por ela mesma, bastando tirar dela o que não é necessário, o que está sobrando, acumulando, pesando, intoxicando e sujando.

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